quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Kika Freire - Pulsões

















































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Há cerca de 12 anos me indignei assistindo a um filme em que o assassino era perdoado e o louco não. Remeteu-me a uma leitura do inconsciente na sua produção pulsional.  “Quando o inconsciente se manifesta não se pode dizer NÃO, é preciso encará-lo, enfrentá-lo, do contrário...!” E essa frase da Dra Nise da Silveira me fez mergulhar em seu trabalho, onde estive desde então.

A produção de imagens do inconsciente ganhou pé direito em minha vida e imaginei o encontro de uma bailarina e de um músico, dissociados do lugar comum, que em uma relação intensa transformam a patologia psíquica em arte para sobreviver.

Mandalas, argila, tinta, cores, mitologia são elementos que ganharam potência nas mãos da Dra Nise e hoje nos possibilitam um contato sutil e preciso com pessoas incapazes de comunicação discursiva, linguagem imperativa nessa era da razão. A comunicação sustentada por uma lógica razão/consciência, em que a cognição limitadora impede a invenção de mundo e nos assujeita às construções dominantes, sai de um espaço amorfo para a criação de um novo lugar de vida.

As produções do ateliê do STO (Setor de Terapêutica Ocupacional) do Engenho de Dentro ressignificam o interno: Emydio de Barros sai da condição de psicótico obsessivo para se tornar um dos maiores expressionistas do País.

Em que momento perdemos a erótica que nos dilata o campo de percepção para nos restringirmos às regras que nos anulam e desviam de um corpo desejante?

Os nossos personagens dizem SIM. Sim à derivação de horizontes, sim à força motriz que se dirige a um objeto. E a nossa forma de sobrevivência está na doação. Música e dança. Afetações. Amor. Experimentar um discurso através de uma ótica singular e sem desvios. Pulsões.

“A Loucura está profundamente ligada ao desamor. Só o amor salva alguém da loucura.” (Dra Nise da Silveira)


Kika Freire